Estoque Virtual – Fonte: Supermercado Moderno

Estoque virtual

Por Alessandra Morita – 18/09/2014

Você acha que a ruptura é o grande problema de sua empresa? Pois saiba que existe um outro ainda pior. Ele consome seu faturamento, mascara problemas sérios, contamina a equipe com práticas insensatas e tira a paciência da clientela

De um total de R$ 9,6 bilhões perdidos pelo varejo com itens que deixam de ser vendidos, R$ 6,7 bilhões correspondem a prejuízos gerados por estoque virtual. Os dados são da Neogrid, empresa especializada em soluções para a gestão de abastecimento. Segundo seus estudos, o percentual de itens atingidos pelo problema alcança 18%. Numa loja com 25 mil SKUs, cerca de 4,5 mil aparecem no sistema, mas não estão presentes no estoque. O problema é mais grave do que a ruptura, cujo percentual apurado pela Neogrid é de 8% dos produtos.

“O problema é identificar o estoque virtual, já que resulta de quebras, furtos e ‘degustações’ indevidas. Se o supermercado não fizer um acompanhamento adequado, é provável que depare com o problema apenas no momento do inventário. Dependendo da categoria e do processo adotado, isso pode demorar cerca de três meses ou até mais.

“A recomendação é fazer o sistema de gestão produzir relatórios que deem alertas sobre os produtos que estão sem vendas há mais dias do que o seu giro médio”, diz Claudia Fajuri, gerente comercial da Neogrid.

“A empresa deverá, então, procurar o produto, e, caso ele não esteja mesmo presente, entrar no software e zerar a quantidade”, alerta. Esse acerto no sistema é muito importante. Segundo Claudia, quando o produto deixa de ser vendido, os programas que disparam o pedido de compra recalculam automaticamente a demanda, alterando o ponto de reposição. “Nesse caso, o sistema deixa de disparar um novo pedido porque o item ainda consta em estoque. Se o SKU, entretanto, é zerado no sistema, o pedido de compra é enviado ao fornecedor”, diz. Conforme as vendas vão acontecendo, novos pontos de pedido vão sendo recalculados, conforme o giro, que tende a ser maior nos primeiros dias após o acerto, devido à demanda reprimida. Aos poucos, as vendas normalizam, fazendo com que o parâmetro de compras volte ao nível anterior à ocorrência do estoque virtual. A executiva da Neogrid ressalta que o combate ao estoque virtual gera resultados muito bons. Ela cita um projeto realizado em seis unidades de uma grande rede supermercadista, envolvendo dez indústrias. Durante 15 dias, os promotores receberam alertas de itens sem vendas, que superaram o período médio de giro. Na busca por cada um deles, os profissionais confirmaram 4.000 casos de estoque virtual, que foram corrigidos no sistema. Com isso, as lojas registraram alta média de 90% nas vendas dos itens atingidos.

Veja como o problema afeta sua empresa
Campeão em estoque virtual na América Latina, o Brasil perde por ano R$ 6,7 bi em receita

Com um trabalho semelhante, a rede Coop, 28 lojas, reduziu o estoque virtual de uma média de 15% em 2012 para 5% a 6% neste ano.

Principais causas
O estoque virtual tem várias origens.Analise todas em sua loja

» Inventários mal feitos
» Furtos
» Mercadorias “degustadas” pelo cliente sem pagar
» Produtos estragados/danificados
» Processo errado de leitura de código de barras no checkout*
» Uso de produtos da loja pela padaria, confeitaria, etc.

* Quando a operadora passa o código de barras de um tipo de gelatina pelo leitor e digita a
quantidade manualmente, sendo que o consumidor está levando sabores diferentes. Isso pode causar
estoque virtual de algumas versões

Resistência atravanca mudanças
Com receio de prejudicar resultados, funcionários preferem deixar tudo como está

Ao receber de um fornecedor a proposta de um projeto de combate ao estoque virtual, o presidente de uma grande rede não acreditou nas dificuldades para corrigir o problema em suas lojas. Ele foi convidado, então, a ir pessoalmente a uma das filiais, onde já se sabia da existência de itens em estoque virtual e era preciso resolver o problema, para evitar mais perdas nas vendas.

O executivo da rede acompanhou o fornecedor e presenciou a conversa entre ele e o supervisor da área. Sem reconhecer o presidente da companhia, o funcionário se negou a zerar o item no software de gestão. A justificativa: ao fazer isso, o item entraria como quebra, o que prejudicaria o resultado da loja, colocando o faturamento abaixo da meta estabelecida pela matriz. A história é real e é narrada por Rodrigo Leão, diretor da Trade Force, empresa especializada na integração e processamento de informações via smartphone. No final, o presidente da rede chamou o diretor da loja, que assumiu a responsabilidade, dizendo que não alterar o sistema era uma orientação dele. A empresa então viu a necessidade de iniciar rapidamente um amplo programa de combate ao estoque virtual, com a conscientização das equipes de que a receita se torna muito maior com o controle do problema. “Isso foi importante e gerou bons resultados, porque a orientação partiu de cima, de quem comanda a organização”, acrescenta Leão. Rever as metas também pode ajudar. Desde o ano passado, a Coop incluiu a queda de estoque virtual entre os indicadores que compõem o Programa de Participação nos Lucros e Resultados dos gerentes de loja. O PLR prevê ganho extra de até 1,5 salário, dependendo das metas alcançadas”, conta Rogério Lopes, gerente de supply chain da empresa. “Para não sobrecarregar os profissionais, eliminamos dessa remuneração o indicador de perdas, pois esse problema já está bem encaminhado em nossas filiais”, explica. A rede também realizou treinamentos voltados ao combate do estoque virtual com os gerentes e encarregados de loja. Afinal, a responsabilidade deve ser compartilhada.

“Diariamente, disponibilizamos a relação dos itens sem venda na intranet. Cabe a cada filial checar as presenças e justificar as ausências para a equipe de gestão de estoques, responsável por corrigir os erros no sistema”, diz Rogério Lopes, gerente de supply chain. “Essa área tem a opção de inserir pedidos manuais, o que ajuda a evitar distorções no ponto de disparo de novas compras, além de recompor os parâmetros de reposição rapidamente”, explica. A rede Princesa, 19 lojas, também melhorou seus indicadores, depois de ter constatado nos inventários que a ruptura, de 8% a 9%, subia para 20% a 30%. “Entendemos que era problema de estoque virtual e fomos às lojas conversar com os envolvidos em todo o processo”, conta Alexandre Gusmão, gestor de categorias. “Percebemos que a maior parte dos problemas estava no uso de produtos das lojas na rotisseria, padaria, confeitaria e até refeitório dos funcionários. O pessoal do preparo pegava os produtos nas prateleiras sem dar baixa no sistema”, explica Gusmão. Agora um profissional de cada unidade separa os ingredientes para a retaguarda, dando baixa no estoque da loja e inserindo os itens no estoque dos setores de preparo. A iniciativa, somada ao acompanhamento diário dos alertas de estoque virtual, ajudou a reduzir o problema. “O índice de ruptura, que subia para 20% por causa do estoque virtual, hoje não passa de 12%”, diz Gusmão.

Fonte: Supermercado Moderno – http://www.sm.com.br/Editorias/Negocios/Estoque-virtual-24677.html